A psicofísica: uma das primeiras tentativas de mensuração dos fenômenos psicológicos

A precisão técnica das medidas e a possibilidade de estudar o corpo humano em funcionamento, submetendo-o a situações experimentais, permitiu que fisiologistas da Universidade de Leipzig[1] na Alemanha pesquisassem as diferenças de intensidade entre um estímulo físico e a sensação conseqüente a este estímulo, constituindo uma das primeiras tentativas de mensuração das sensações humanas.

Trata-se do caso de Ernst Weber e Gustav Theodor Fechner que, na década de 60 do século XIX, formularam o que se conhece por lei Weber-Fechner. A lei postula que para cada aumento aritmético da medida de uma sensação é imprescindível o aumento geométrico da intensidade física do estímulo (BORING, 1950). Fechner, a partir destes achados experimentais, formulou um novo domínio científico, uma ciência exata das relações entre o mundo físico e o mundo psíquico, consolidando o estudo experimental e a mensuração das sensações, destacando-os da fisiologia para isto que ele chamou de psicofísica. A precisão da mensuração das sensações estava, dentro da psicofísica, assegurada por fómulas para casos específicos como a percepção do peso, do estímulo visual e do som, deduzidas a partir desta equação diferencial elementar e geral:

onde dp está para mudança diferencial de percepção, ds para o aumento diferencial do estímulo e S para a medida do estímulo no instante determinado, sendo K uma constante, cujo valor era determinado experimentalmente.

Fechner a explica sinteticamente nos Elementos de Psicofísica, publicado em 1860:

Na fórmula da mensuração, têm-se uma relação geral dependência entre a magnitude do estímulo fundamental e a magnitude da sensação correspondente e não uma que é válida somente para os casos de sensações iguais. Isso permite que a quantidade de sensação seja calculada a partir das quantidades relativas do estímulo fundamental e assim temos a mensuração da sensação. (FECHNER, 1860; ed.online; s/ pg.).

A psicofísica problematizava as relações não lineares, ainda que proporcionais, equivalentes e paralelas entre os estímulos físicos e a intensidade das sensações produzidas no organismo. Esta não-linearidade entre o mundo físico e o mundo psíquico postulada pela psicofísica, se insere dentro dos desdobramentos científicos, filosóficos e artísticos do século XIX que chegavam a uma espécie de acordo, de diferentes maneiras, quanto ao entendimento de que a visão, ou qualquer um dos sentidos, não podia mais reivindicar uma objetividade ou certezas essenciais (CRARY, 2005; p.67). Na realidade, estas tendências faziam parte de uma nova modalidade de crítica ao dualismo cartesiano e ao mecanicismo newtoniano, questionando a validade da experiência imediata da razão ou da racionalidade sobre os sentidos humanos na produção do conhecimento científico e filosofico.


[1] Fisiologistas da Universidade de Leipzig: Ernst Weber (1795-1878) inicia suas atividades em Leipzig em 1818. Fechner (1801-1887) é apontado como professor de física em Leipzig em 1834, onde passaria o restante de sua vida. Karl Ludwig (1816-1895), o inventor do quimógrafo entra para esta universidade em 1865 e funda o Instituo de Fisiologia de Leipzig. Wundt (1832-1920) entra para o instituto de Leipzig em 1875, onde alguns anos depois, fundaria o Laboratório de Psicologia Experimental de Leipzig.

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